sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Entrevista: Dark Slumber

Jorge, Guilherme, Heyder e Sandro
Dark metal feito por quem tem comprometimento com a música, imprimindo no seu trabalho a seriedade, qualidade e capacidade musical. Assim é uma pequena definição que pode descrever o trabalho da banda Dark Slumber, que tem lançado dois trabalhos e vamos nessa entrevista abordar isso e um pouco mais dessa trajetória seguida com seriedade e sem envolvimento em atritos alheios muito comum na cena atual.

1- Gostaria inicialmente que definissem o estilo da banda e sua formação, explicando se a proposta inicial é o que a banda ainda desenvolve hoje.
Jorge - Definimos como Dark Metal, que na minha definição é um som com elementos do Death, Black e Doom com temas sobre ocultismo, terror, etc. A formação da banda é Guilherme no vocal e guitarra, Sandro na guitarra, Heyder no baixo e eu na bateria. Sim, seguimos com a proposta inicial.
Guilherme Corvo - Essa fusão de estilos às vezes confunde as pessoas. A verdade e que não seguimos diretamente nenhum estilo particular musical, nossa música e uma manifestação daquilo que gostamos musicalmente. Sem prisões, sem predefinições, sem artificialidade. Se você ouvir e achar que e death metal ele será death metal, se você ouvir achando que é black metal, será black metal. O que não irá mudar é a essência, que sempre será obscura.

2- O que podem nos dizer sobre a Demo "Qliphotic Black Dimensions" (2013) e o recente CD "Dead inside" (2015)?
Jorge - Lançamos a demo em 2013, passamos um ano divulgando esse trabalho, mas divulgação ficou mais concentrada na região e logo depois o Corvo (guitarra e vocal) foi para a Irlanda, nesse tempo que ele ficou lá a banda ficou praticamente parada. Quando ele retornou nos surgiu a oportunidade de lançar um CD oficial, então pegamos as músicas da demo e mais duas inéditas colocamos, uma Intro e assim surgiu "Dead Inside".

3- A banda tem realizado shows que vão construindo sua estrada e apesar da pausa que a banda teve, por motivos necessários e alheio a vontade de vocês, creio que retornam mais certos do que desejam, mais firmes e mais direcionados. Quais são os planos mais próximos a seguir?
Jorge - Acabamos de lançar o CD, os planos agora é divulgar o máximo possível nosso trabalho e sair fazendo shows pelo Brasil a fora. 

4- Como vocês definem a atual cena heavy no Brasil? O que se destaca?
Guilherme Corvo - A cena de metal é curiosa pois ela sempre se renova, o metal está vinculado a uma série de elementos psicológicos que fortalecem o desenvolvimento intelectual dos indivíduos, é uma energia muito forte que bem canalizada impulsiona esses indivíduos. Eu acredito, no entanto, que devido à introspecção estar associada e boa parte do metal uma boa parte do público mais velho se distancia dando espaço a nova geração, isso é cíclico. No entanto hoje mais que nunca podemos perceber que existe um cenário forte para o Metal no Brasil, os eventos estão voltando e as pessoas têm marcado presença nos eventos, principalmente no nordeste e agora no sudeste na parte do Rio de janeiro e SP.

5- Que influências podem citar no trabalho de vocês? Diga-se de passagem, é um trabalho muito bem elaborado e enxergo a banda com qualidade musical elevada.
Guilherme Corvo - As influencias permeiam desde artes plásticas como Zdzislaw Beksinski, HR Giger, Laurie Lipton; Da literatura, H.P Lovecraft, Augusto dos Anjos, Charles Baudelaire, Edgar Allan Poe, Clive Barker; Musicalmente existem centenas de influencias que poderia citar, no entanto um pouco a contra gosto vou me abster a estilos, temos influência desde musica clássica, brutal death metal, gore, post punk, Depressive black metal, etc...  Ou seja, é uma gama muito vasta de inspirações e através de um alinhamento de eventos particulares, e não necessariamente apenas musica que nos influenciam nas composições. 

6- Atualmente há facilidade em se obter material das bandas. Antes necessitávamos importar, copiar em fita k7, esperar chegar no Brasil.. Isso comprometeu a falta de envolvimento maior do público para apoiar mais as bandas?
Guilherme Corvo - A globalização de fato diluiu a sensação que existia de saudosismo ao obter um material que só poderia ser obtido entrando em contato diretamente com as bandas e selos, mas por outro lado possibilitou aos novos entrantes, maior facilidade para se absorver material, e uma relação quantidade x qualidade. Temos por nossa natureza humana uma característica muito peculiar, que e a de não valorizar aquilo que e facilmente obtido.
Existe um volume grande de bandas de muitos estilos diferentes e com esse fluxo tamanho de informação paramos cada vez menos para dar atenção a uma única coisa, ouvimos musica dirigindo, ouvimos musica em fones andando, malhando, com a rádio talvez estudando, no entanto os antigos hábitos de simplesmente parar e fechar todos seus outros sentidos e direcionar a atenção apenas a audição e algo que tem desaparecido com a nova geração. Essa mecanicidade e refletida em outras esferas da vida humana e é um assunto que pessoalmente me preocupa pois nos tornamos cada dia mais mecânicos e insensíveis, a musica se torna apenas uma ferramenta para se relaxar e não como era antigamente uma fonte de imersão.

7- Apesar da qualidade do heavy metal nacional, a cena parece ter perdido algo mágico. Isso é fruto da vida corrida atual, desinteresse do público que se renova mas sem comprometimento ou o que acham disso?
Guilherme Corvo - As pessoas são guiadas por um senso de coletividade, e da natureza humana, no entanto sabemos que o rock sempre foi uma vertente musical que prima pela singularidade, a exaltação do individuo e a não necessidade de se seguir padrões, no entanto o que vemos e que essa corrente de modismo continua firma e forte, o que me parece e que existe uma multidão esperando a mídia vomitar a nova tendência do momento para que possam compartilhar isso em suas timelines, alguém vai fazer um rap com metal, ou alguma forma que sem o metal seria repudiada por esse grupinho ‘ahhh mas olha só! Tem uma caveira na capa do CD, não deve ser tão ruim não e? Tem um clipe com alguns milhões de views no youtube’. Essas pessoas em minha opinião estão tão ávidas por fazerem parte de algo que irão se jogar na primeira corrente que aparecer. 
Esse público em minha opinião só serve para fazer volume e viabilizar eventos de rock (nas raras vezes que decidem sair de frente de suas vidinhas virtuais de Facebook), faltam os indivíduos de personalidade forte que escutam um tipo de som simplesmente porque isso causa prazer. Isso eu reconheço que e difícil, mesmo na era digital em que vivemos, e doloroso para muitas pessoas seguirem uma "viagem musical" sem outras pessoas para trocar essas experiências musicais mas vou dizer algo que gostaria que vocês curiosos que estão lendo esta entrevista saibam... "O que e uma viagem solitária por vezes se torna a êxtase de milhões", nunca desistam se seguir oque acreditam e fodam-se os modistas carentes. 

8- Como é na Dark Slumber conciliar a vida corrida com o tempo para a banda? 
Guilherme Corvo - A musica e algo que não podemos retirar de nos, e não basta simplesmente ouvir, temos essa necessidade pessoal de manifestar nossas inspirações através da musica. Procuramos reservar algumas horas todos finais de semana para que possamos nos encontrar apesar de trabalho, estudos... Infelizmente no Brasil viver de musica e algo muitíssimo difícil oque torna o processo de ter uma banda muitas das vezes uma "diversão cara". 

9- E os custos, ainda fazem valer a pena ter uma banda? Merchan vale a pena ou os "amigos" sugam o material sem dar retorno financeiro?
Guilherme Corvo - É algo que pessoalmente me deixa aborrecido, mas felizmente muitos de nossos amigos que nos acompanham entendem que manter uma banda e algo que sai caro e fazem questão de pagar pelo material isso e algo que nos estimula, já que os valores que colocamos na vendagem de merchan e simplesmente suficiente para cobrir os gastos. Não levando em consideração custos de manutenção de equipamento, horas de estúdio gastas, transporte etc. Estamos bastante satisfeitos com os publico que tem nos dado suporte e motivação.

10- Como a banda cria seu material? Como surgem as ideias? E como tem sido a aceitação por parte dos seguidores?
Guilherme Corvo - Geralmente eu e/ou o Sandro criamos as estruturas melódicas das guitarras, ou o processo se inicia nas letras e a partir desse esqueleto começamos a trabalhos os elementos secundários da estrutura melódica o Heyder adiciona o baixo e o Jorge a bateria.
Não gostamos de deixar o processo criativo mecanizado, criamos a partir de qualquer ideia ou sentimento que sintamos que seja coerente com o conceito da banda que visa proporcionar a quem escuta uma sensação de imersão e introspecção, sentimento esse que eu acredito que seja vital para o auto desenvolvimento cognitivo e intelectual do ser humano... O que seria da arte sem a melancolia? Talvez um monte de pop rock gospel adolescente. 

11- Deixem aqui uma mensagem final para os que seguem nosso trabalho.
Guilherme Corvo - Queríamos agradecer a você Vanderley que após todos esses anos se mantém ativo na cena, esse tipo de atitude mantém o nosso cenário musical vivo. Queríamos também agradecer a todos os malditos que tem comprado o nosso CD e dado suporte, vocês são de suma importância para a nossa continuidade e fico bastante contente de saber que vocês fazem parte disso conosco. Nunca desistam de quem vocês realmente são, não se tornem parte da massa! A escuridão é uma fonte inesgotável de inspiração, bebam dessa fonte e nunca estarão só! 
Nós somos o somatório de escolhas que fazemos em nossas vidas, nossa personalidade e a manifestação dessas escolhas. Obrigado por embarcarem nessa viagem sombria conosco malditos!!! STAY DARK!!! 218!

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