quarta-feira, 29 de maio de 2013

Entrevista com Sigried N. Buchweitz - Editora do Blog Rio de Metal

Ela filha e é mãe, mas vai demorar pra ser avó. É arquiteta e urbanista, gosta de culinária e artesanato. Tem a bolsa mais bagunçada do planeta. Edita os blogs "É Feito com Amor" e "Rio de Metal". Com essa definição dela própria, vamos iniciar a conversa com essa amiga incrivelmente especial e doce: Sigried N. Buchweitz

1- Depois que conheci o trabalho do seu Blog Rio de Metal (http://riodemetal.blogspot.com.br/), tivemos oportunidade de conversarmos, trocarmos postagens sobre variados assuntos e até mesmo nos conhecermos de fato no show de 1º aniversário da Quality Music. Diga-nos: como conciliar tantas atividades, incluindo família, com esse amor que você deposita no que faz?
Ah, cara, faço como posso... Pra editar o blog, uso bastante meu iPad, pois assim posso editar as coisas "on the go": produzo textos e imagens no metrô! Tenho também a sorte de  desfrutar de 1:30 de almoço, então posso editar mais algumas coisinhas no computador do meu trabalho neste horário e no fim do expediente. Às vezes chego um pouco antes do meu horário normal de entrada e aproveito esse tempinho. Em casa, no fim-de-semana, só se a minha filhota der folga. Mas confesso que esse tempo não basta, pois estou com umas 4 entrevistas e 5 álbuns de atraso. Heheeee! Procuro ir a um show por mês. Essa é a conta, pois gosto de cuidar da família também. Não acho legal deixar minha filhota com a Vovó todo fim-de-semana pra sair. Quero ficar com ela, vê-la crescer, aproveitar o tempo, que passa e a gente acaba nem percebendo. Filhos são a coisa mais importante da vida da gente.

2- Sobre o Blog Rio de Metal, gostaria de parabenizar mais uma vez pelo trabalho que eu curto demais. Como se deu a idéia de criá-lo?
Obrigada! Em princípio, criei o blog pra acompanhar as atividades do meu marido (Elcio Pineschi, baterista do Unmasked Brains) com algo que gosto muito, que é escrever. Eu já tinha outro blog antes (É Feito com Amor), que está meio paradinho agora, pois quero dar um gás no Rio de Metal. Percebi a necessidade de criar um blog à parte depois de assistir ao show que marcou o retorno da banda, no Odisséia, produzido pelo saudoso Fabio Costa, sob a marca do Garage Art Cult. Aliás, minha primeira resenha de show EVER está lá no É Feito com Amor, o meu blog "mulherzinha". :-D  A coisa foi tomando corpo, por um momento o Rio de Metal dava mais acessos que o meu primeiro, mas aconteceu tanta coisa maluca na minha vida que tive que parar com tudo por um tempo* e acabou que agora ele anda menos acessado. Estou fazendo esforço para o Rio de Metal se reerguer e ficar como antes!

3- Sinto em seu trabalho algo sempre motivador, direto no foco e que traz a participação e interesse das pessoas que geralmente tem "preguiça" de postar comentários em blogs. Também sei que ser uma multitarefa não é algo que te impeça de por em prática os projetos. Como se motiva para as inúmeras atividades?
É engraçado, mas os blogueiros do metal não têm o hábito de fazer comentários nos posts. Acho uma pena, porque é aí que acontece a melhor troca entre blogs! Quando uma matéria é comentada, fica mais rica, gera discussão e debates. Você conhece gente nova, blogs novos, cria uma rede duradoura de interesses. Vá lá, hoje em dia a galera entra, compartilha o link no FB e comenta, mas não é a mesma coisa. Quando se deixa um comentário no post do blog, ele fica lá pra sempre. O do FB é volátil, daqui a pouco desaparece. É tudo muito rápido. Quanto a ser "multitarefa"... RS! Acho que é de família. Meus pais são bem assim, também. às vezes é uma bênção, outras vezes uma sina. É legal saber fazer de tudo um pouco, mas tem que tomar cuidado pra não perder o foco. Fora uma série de outros, são nesses momentos que eu falho.

4- Não deixando de lado que também é arquiteta e urbanista, "mais urbanista que arquiteta" e ainda administra o site da empresa onde trabalha (http://www.conen.com.br/), por sinal, um trabalho belíssimo. De que forma se deu o seu encontro com a bela área de arquitetura?
Obrigada mais uma vez! Queria fazer ainda mais, mas ultimamente tem entrado tanto projeto que não consigo mais atualizar o site, só o FB, o que já me toma uma hora diária em pesquisas, criação de imagem para os posts, divulgação...  Gosto muito do meu trabalho. Estou em uma equipe envolvida em Planos, especialmente Planos Municipais de Saneamento Básico. É muito gratificante "descobrir" cada uma dessas pequenas cidades do Brasil, criar diretrizes para que haja melhorias nos sistemas de saneamento básico, que são o abastecimento de água potável, a coleta e o tratamento de esgotos, a coleta e destinação final de resíduos sólidos e a drenagem de águas pluviais. Já trabalhamos em municípios do Nordeste, do Sudeste e do Centro Oeste brasileiros, além de alguns no exterior (Angola, Paraguai e outros países). Essa importância que o saneamento tem** foi uma das coisas que me fez ser tão apaixonada pelo que faço. Bom, sempre fui uma "ecochata". Hehe! Preciso dizer que (dentre outras bandas) curto Midnight Oil e Suicidal Tendencies? Que entre minhas canções favoritas estão Blackened (Metallica) e Another Way to Die (Disturbed)? 

No início, expressei essa atenção ao meio ambiente através do mestrado, que foi em Conforto Ambiental e Eficiência Energética. Acho que foi aí que também apareceu meu gosto por escrever. Dissertação, apresentação, artigos, traduções de inglês, espanhol, francês... Enfim, fazia isso muito. Anos depois fiz minha pós em Engenharia Sanitária e Ambiental e conheci o diretor da empresa onde trabalho agora. Nem fiquei feliz quando recebi o convite, né? Rs! Urbanismo sempre foi mais a minha praia, desde a faculdade. Tanto que meu projeto final foi traçar umas linhas gerais para um Plano Diretor Urbanístico para minha cidade natal, Jaguarão (Rio Grande do Sul). Juntar urbanismo com saneamento é então o melhor de dois mundos.

5- Musicalmente falando, ou digitando rs, o que você gosta de ouvir?
Gosto de ouvir metal (duh, óbvio), rock de uma forma geral, jazz, música brasileira (amo os ritmos brasileiros), música latina, erudito... Mas nada me impede de ouvir pop, músicas típicas de culturas diversas (quer um exemplo? Música árabe)... Pra entrar pelos meus ouvidos, basta ser bom. Ou nem isso, basta eu achar que é bom pra mim. O metal é especial pra mim (destaco aqui o thrash) pelo aspecto do protesto, da catarse, esse lance de expressar musicalmente a raiva e a revolta sobre o que não vai bem. Acho legal, não é um discurso vazio. Num güento muito esses lances de "eu te amo meu amor" na música... Claro, há exceções à regra, mas no geral acho que já deu o que tinha que dar. E claro, muito importante, valorizo a busca por excelência na música e o metal pode ser bastante exigente. É muito legal se envolver com música que tem a ver com qualidade. Atualmente ando meio viciada em Kansas, que não tem muito a ver com metal, a não ser pelo fato de "Dust in the Wind" ter sido gravada pelo Scorpions. Ah, sim! E também por causa de um vídeo do Kaliburn, fazendo cover de uma música deles! Tenho ouvido bastante os álbuns Point of Know Return e Leftoverture. Super legal também o fato deles terem 40 anos de estrada, estarem aí ainda fazendo shows.

6- Como você enxerga hoje o heavy metal, a música pesada no Brasil? O que falta no cenário nacional e o que se destaca?
Acho que o cenário atual é carente de atenção como um todo. Pra falar em Internet, especialmente FB, Vejo que em grupos e fanpages uma parte grande do que é postado me parece mais um montão de propagandas que poucos param pra ler. Dá a impressão que é mais lido quem postar mais e não necessariamente quem fizer a colocação mais interessante. Gosto muito de grupos de discussão. Acho que neles se destaca o que a comunidade verdadeiramente tem mais interesse, já que os melhores tópicos têm mais respostas. Confesso, no entanto que ainda não conheço um sobre metal underground. Fora isso, em geral, as políticas de uso de fóruns não permitem divulgação de blogs, o que pra mim complica. Sei que isso é importante pra não haver abusos, tipo gente criando tópicos apenas para divulgar posts, mas acho que podia haver um pouco mais de flexibilidade e aí todo mundo ficaria feliz. Certa vez criei uma figura que expressa bem o que quero dizer em relação ao uso da Internet (especialmente do meu blog) para divulgar e discutir sobre metal. Quero saber o que os leitores pensam.

No "mundo real", eu queria ver produtores e bandas enxergando mais essa cena como um negócio.. Parece contraditório, uma vez que a parte mais bacana do underground (ao menos pra mim) é justamente a pureza, a ausência daquela coisa "pasteurizada" que todas as bandas passam a ter ao entrarem pro mainstream. Mas é isso mesmo. De vez em quando você precisa deixar o coração um pouquinho de lado e ao invés de pensar só no nosso querido metal, focar um pouco no "vil metal", já que no final das contas é ele que vai sustentar nosso "vício da música". Exemplo: o que é que os outros nichos musicais têm que falta no metal, pra ajudar a divulgar mais, alcançar um público maior? Por que os dias de metal do Rock in Rio estavam entre as primeiras opções do público, mas esse mesmo público não vai aos shows underground? Festas com bandas menos conhecidas de outros estilos têm uma performance melhor que as do metal, acho eu. Falta o que pra atrair essa galera? Na minha humilde opinião, parece que falta é analisar melhor o mercado, da mesma forma que os "grandes" fazem. E aí criar as estratégias de marketing corretas, além de estar organizado pra buscar patrocínios mais polpudos e verbas com prefeituras e outros órgãos do governo que fomentem projetos culturais, além de ONGs. 
Quem faz um trabalho bacana mais que merece um reconhecimento de público e de financiadores. O trabalho mais duro e com mais riscos e responsabilidades é o do produtor... Mesmo quem está nessa por hobby podem encarar essa atividade como um estímulo para produzir um som cada vez de maior qualidade. Afinal, quem escala uma montanha não está sempre pensando na próxima? Como ela será? Mais alta? mais íngreme? Ainda que um grupo de amigos toque ou organize shows apenas por diversão, qual é a graça de fazer isso sem um desafio? Cativar mais o público, tocar ou produzir cada vez melhor, descolar um patrocínio...

7- Que bandas, nacionais principalmente, tem roubado a sua atenção?
Gostei muito de ver e ouvir o Innocence Lost! A voz da Mari Torres é muito legal, espero que ela a preserve bem, pois é preciosa! A cozinha deles também é muito boa, o que faz uma tremenda diferença: baixo (Rodrigo) e bateria (Heron) é o que fazem a galera sentir mais a vibração da música. Não posso deixar de mencionar também o Aloysio Ventura e o Juan, que fazem um belo trabalho no teclado e na guitarra, respectivamente. Desnecessário dizer que curto muito Unmasked Brains, certo? É por causa deles que estou me envolvendo com o underground. Quando conheci o Elcio, ele já tinha banda, estava na fase de transição da Milícia Armada para Unmasked Brains. Foram nove anos de namoro (é, ele me enrolou bastante), dois deles com banda e dez de casamento. Agora ele voltou a tocar, nós com família formada, etc. Eu tinha todos os motivos pra detestar esse negócio, pois toma tempo da família, perturba os vizinhos, gasta uma grana... Mas na verdade gosto muito disso tudo! O amor que ele tem por música contagia a todos lá em casa: nossa filha tem aulas de música, eu acabei fazendo aulas de canto e agora estou no violão. Como se já não bastasse o blog, as fotos que gosto de tirar***
Mas é claro que essas não são as duas únicas bandas que me chamam a atenção: o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, é um celeiro de bandas interessantes. De fora do estado, gostei de ouvir Scelerata (que tocou aqui no Rio inclusive, mas não pude ir assistir) e Semblant. Do estado, já vi tantas... Cada uma tem algo único, mas as que lembro terem chamado mais a minha atenção no palco foram Gangrena Gasosa, Hatefulmurder, Monstractor, Forkill, Statik Majik e Syren. Fora do metal, curto muito o som do Figurótico e amei ver o show dos Mc's Hc! Só assim pra eu dizer que gosto de funk... Uma das influências sonoras do Miami Rock deles. De uma forma geral, gosto muito de ver a performance das bandas no palco. Pra mim, é ali que estão suas essências: a execução das músicas ao vivo, a interação com o público, a atitude..

8- Creio que faria mais um zilhão de perguntas, mas uma nova oportunidade acontecerá. Deixe então sua mensagem aos que acompanham seu trabalho e da Quality Music.
Agradeço muito aos que acompanham o blog e convido quem ainda não o conhece a dar um pulinho lá e deixar um comentário! Agradeço especialmente a quem comenta os posts, tanto do blog quanto da fanpage ou no Whiplash e mais ainda a quem me mandam mensagens de estímulo para continuar o trabalho. Não posso esquecer também de quem envia críticas, pois sem elas não há como perceber claramente as falhas. Valeu mesmo!

Vanderley, obrigada pelo apoio e espero que nossa parceria continue por muito tempo e rendendo mais e melhores frutos.

(Nota da Quality Music: "Abaixo, alguns  complementos que não poderiam ficar de fora desta sensacional entrevista) 
*Foi uma barra pesada que tive de segurar... Tenho HPN, uma morbidade rara que entre outras complicações dá tendência à trombose e baixa minha imunidade. O ano de 2012 foi bem complicado! Primeiro sofri um aborto, foi muito triste pois era minha última chance de dar um irmãozinho pra minha filha. Como se isso não bastasse, meses depois uma tromboflebite causada por um acidente doméstico levou embora o terceiro dedo da minha mão direita. Foram quase 20 dias de hospital, 2 "passeios" de ambulância, uma cirurgia pauleira e meses de fisioterapia. Mas tô aqui pra contar a história!

**O saneamento básico é muito importante para que haja desenvolvimento social e econômico em um município; aliás, todos os municípios deviam ter. Numa cidade com infra-estrutura urbana menos pessoas ficam doentes, pois tem acesso a água com qualidade, tem seus esgotos e o lixo afastados; há mais economia, pois existe um programa de reciclagem do lixo, há menos alagamentos que dão tanto prejuízo e proliferam doenças. Um plano bem feito ajuda quem está no comando a atuar de maneira eficaz na cidade e ajuda os cidadãos a cobrarem a execução daquilo que está descrito no plano, pois nele estão descritas as prioridades de investimento. Hoje em dia a participação da população é exigida, conforme a Lei 11445 de 2007. Aliás, segundo esta mesma Lei, toda prefeitura é obrigada a elaborar um plano desses e se isso não for feito até 2014, ela não mais receberá recursos para saneamento.

***Elcio é um cara muito dedicado ao que faz, treina todos os dias, religiosamente; está sempre ouvindo um som novo, pesquisando instrumentistas, batucando por toda a casa. É uma máquina de tocar. Isso se reflete em sua performance no palco: eu já deveria estar acostumada, pois o ouço tocar todos os dias, mas cada vez que ele sobe lá e começa, até hoje sinto um arrepio.
E o que dizer dos outros "meninos"? Denner, também conheço desde antes de entrar na banda, é um cara versátil, muito competente e dedicado e que verdadeiramente ama música. Dos quatro, é o único músico por profissão. E quando descansa, como diz o ditado, carrega pedras. Ao invés de preencher seu tempo livre com outras atividades, prefere estar ali, ensaiando e tocando, num estilo completamente diferente: sai do baixo acústico, upright, vai para o elétrico. Fiquei comovida ao ver que a primeira coisa que fez ao ingressar na banda foi partiturar as músicas. Pra mim, isso prova o quanto ele gosta do que faz.
Reinaldo, ele é o coração da banda. Pouco antes dos meus acidentes de percurso*, começamos a conversar bastante e desde então trocamos muitas idéias sobre tudo, seja por uma janelinha de chat, seja almoçando em algum canto do Centro da cidade. Além de músico talentoso e um baita frontman, está sempre com mil idéias na cabeça. Muito sociável e expansivo, gosta de conversar com todo mundo. Adora receber o feedback da plateia, está sempre de olho às críticas e elogios. Ele que começou com esse negócio de querer filmar tudo, o que acabou melhorando a presença de palco e a performance da banda como um todo. Depois do show, todos olham como foi e podem avaliar onde devem melhorar, o que ficou legal, essas coisas. Acabou implementando um processo de melhoria contínua... :-D
E o que dizer de LGC? Esse é outro que me deixa de queixo caído. Mais um que não pára de praticar, nem na rua: de vez em quando ele saca do bolso seu Gripmaster. Muito poucos músicos têm a qualidade dele, mais que admiração ou inveja, chega a dar raiva vê-lo tocar. Hehe! E ele ouve de tudo um pouco, toca de tudo um pouco também: tem suas incursões pela MPB e quando você entra no carro dele, dificilmente escutará metal. Se Reinaldo é o coração, LGC é o cérebro. As composições da banda têm muito, muito dele, e fica difícil dizer de onde saíram suas idéias, já que está sempre bebendo de fontes diversas. Daí o lance do Reinaldo chamar o estilo da banda de "all metal", acho eu. LGC pega tudo e converte tudo, é surpreendente.

3 comentários:

  1. Oieee!
    Valeu a força, a divulgação, o apoio... Vc é um cara em que se pode mesmo contar. Nem liguei muito por vc ter botado as 3 fotos ao invés de ter escolhido uma, como te pedi. Rsrsrsrs!!
    Um grande beijo!

    ResponderExcluir
  2. Ficou show a entrevista Sigried, é muito bom ver pessoas esclarecidas e que gostam do que fazem sendo reconhecidas e mostradas ao público geral com autênticidade. Parabéns por tudo e que continue sempre com este trabalho relacionado à cena. Parabéns também Vanderley, muito boa a entrevista!

    ResponderExcluir